APUNTES

As “reinações” de Monteiro Lobato na Argentina II – Manuel Gálvez, por Thais de Mattos Albieri


A primeira “reinação” de Monteiro Lobato na Argentina aconteceu em 1921, com a publicação de Urupês em castelhano, publicado pela Editorial Patria, de Buenos Aires, de propriedade de Manuel Gálvez (1882-1962), que também já havia sido um dos donos da revista Ideas e Inspector de La Enseñanza Secundaria; publicado em 1918 em português, o livro ganhou as prateleiras das livrarias da capital portenha apenas três anos depois de sua publicação.
    Com trajetórias muito parecidas em seus respectivos países, Lobato e Gálvez, antes do lançamento do livro do brasileiro em terras portenhas, mantiveram – a partir de 1919 – correspondência que resultaria na tal edição lobatiana.
    As cartas trocadas entre os dois revelam, inicialmente, o interesse de publicação do livro em Buenos Aires. Manuel Gálvez escreve a Lobato dizendo que Urupês “encanta”.
Mas por que o encantamento do argentino?
    Urupês é um livro que poderia ser considerado regionalista, dado que os temas que percorrem o livro são as queimadas que assolavam as terras brasileiras. Além disso, a figura do o jeca-tatu – o homem tipicamente do campo – aparece pela primeira vez.
    Essa “identificação” pela diferença provocada por Urupês seria, talvez, um dos motivos pelos quais o argentino encantara-se, propondo a imediata publicação do livro de Lobato, apenas 1 ano depois de sua edição em português.
    Depois de uma série de cartas trocadas entre 1919 e 1921, finalmente saiu Urupês em castelhano, publicado pela Editorial Patria, de Buenos Aires e de Manuel Gálvez. Depois do sumiço de Aguirre, que seria, inicialmente, o tradutor, o livro teve tradução de Benjamin de Garay.
    Garay, amigo de Gálvez desde os tempos em que os dois – ainda adolescentes – viviam em Santa Fé teve uma vida sobre a qual se sabe pouquíssimo.
    Porém, vários fatos ligam o ligam ao Brasil, além da tradução de Urupês: a proximidade com os modernistas brasileiros, seu nome no quadro de funcionários da Embaixada do Brasil, a tradução de Os Sertões (Euclydes da Cunha) e de títulos de Graciliano Ramos para o castelhano, a ponte aérea (e literária) entre São Paulo-Rio de Janeiro e Buenos Aires...esses fatos todos acabaram por fazer de Benjamin de Garay um dos grandes articuladores das trocas literárias Brasil – Argentina.
    Embora não se possa atribuir categoricamente a proximidade de Manuel Gálvez e Monteiro Lobato a Benjamin de Garay, o que se pode dizer, com certa propriedade (e o uso da palavra “certa” aqui é para marcar que, em se tratando de literatura qualquer afirmação categórica pode ser perigosa!), é que se juntou muito bem o brasileiro que dava os primeiros passos como editor, escritor e dono de revista, com um argentino que já tinha experiência como proprietário de revista e editor e dava os primeiros passos para que sua obra fosse lançada no Brasil.
    Tudo isso com a ajuda de outro argentino: Benjamin de Garay.
    Mas este fica para a terceira “reinação” de Lobato na Argentina.




Thais de Mattos Albieri (San Pablo, Brasil)

Otras notas de Mattos Albieri en EdM: https://escritoresdelmundo.com/search/label/Mattos%20Albieri
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